Os Primeiros Avanços da Inteligência Artificial.

O Logic Theorist, criado por Allen Newell e Herbert Simon em 1955, é considerado um dos primeiros programas de inteligência artificial da história. Seu objetivo era realizar uma tarefa de extrema complexidade: provar teoremas matemáticos. Em um contexto onde a solução de problemas matemáticos era uma tarefa intrinsecamente humana, o Logic Theorist desafiou a ideia de que apenas os seres humanos poderiam desempenhar essa função. Usando uma abordagem semelhante à de um ser humano tentando resolver um problema de lógica, o programa analisava teoremas e procurava maneiras de provar suas afirmações. O mais notável é que ele não apenas seguia instruções programadas, mas também desenvolvia estratégias para resolver problemas que nunca haviam sido especificamente programadas nele. Esse foi um avanço significativo, pois mostrou que as máquinas poderiam ser projetadas para pensar de forma mais flexível e não apenas executar comandos fixos. O Logic Theorist não era apenas um programa de "resposta direta" a um problema; ele possuía uma capacidade de adaptação e solução criativa, refletindo as habilidades cognitivas de um ser humano ao lidar com desafios complexos.
O trabalho de Newell e Simon no Logic Theorist também ajudou a impulsionar a criação do General Problem Solver (GPS), que foi um passo mais avançado. Enquanto o Logic Theorist se concentrava apenas em provar teoremas matemáticos, o GPS foi projetado para ser um sistema mais amplo, capaz de resolver uma variedade de problemas de diferentes naturezas. Esse projeto colocou as bases para a criação de sistemas de IA que não se limitavam a tarefas específicas, mas poderiam generalizar suas abordagens para resolver diferentes tipos de desafios, algo que mais tarde seria essencial para o avanço da IA.
Outro avanço importante foi o desenvolvimento do programa ELIZA, criado por Joseph Weizenbaum no final da década de 1960. ELIZA foi uma das primeiras tentativas de criar um sistema que pudesse interagir com os seres humanos usando linguagem natural, ou seja, a mesma linguagem que usamos para nos comunicar no dia a dia. O programa foi projetado para simular uma conversa, embora de forma bem simples. O nome "ELIZA" é uma homenagem a Eliza Doolittle, personagem do musical My Fair Lady, que passa por um processo de transformação ao aprender a falar de uma forma mais sofisticada. Da mesma forma, o programa ELIZA foi uma tentativa de criar um “processo de transformação” no qual uma máquina poderia conversar com as pessoas de maneira convincente.
O mais famoso script de ELIZA foi o DOCTOR, que simulava um psicoterapeuta. O papel do programa era ouvir os problemas do usuário e responder de forma que parecesse uma terapia real, sem nunca realmente compreender o que estava sendo dito. O "DOCTOR" trabalhava com uma técnica simples: ele analisava as frases do usuário, procurava palavras-chave e as reorganizava para gerar respostas com base em um conjunto de regras predefinidas. Por exemplo, se o usuário dissesse "Eu me sinto triste", o programa poderia responder com algo como "Por que você se sente triste?". O truque de ELIZA era que, embora suas respostas fossem extremamente simples e baseadas em padrões, elas pareciam inteligentes o suficiente para enganar muitas pessoas e levá-las a acreditar que estavam conversando com uma entidade que realmente compreendia seus sentimentos.
Embora ELIZA não fosse verdadeiramente "inteligente" no sentido de que não compreendia a linguagem de maneira profunda, ela representou um marco significativo no campo da IA, pois mostrou que um programa poderia interagir com os seres humanos de forma convincente. Essa ideia de simulação de conversas seria a base para os futuros avanços em IA, especialmente nas áreas de processamento de linguagem natural (PLN) e chatbots. De certa forma, ELIZA foi um precursor dos assistentes virtuais modernos como Siri, Alexa e Google Assistant, embora de maneira muito mais primitiva.
Esses primeiros avanços mostraram aos cientistas da época que era possível, pelo menos em um nível básico, construir programas de computador que pudessem realizar atividades cognitivas simples, como resolver problemas matemáticos ou participar de uma conversa. Contudo, esses projetos ainda eram bastante limitados. O Logic Theorist, por exemplo, estava restrito a um domínio específico (provas matemáticas), enquanto ELIZA, embora parecesse interagir de forma inteligente com os usuários, era apenas uma simulação de conversa e não tinha uma compreensão real da linguagem ou do contexto.
Apesar das limitações, os avanços feitos por programas como o Logic Theorist e o ELIZA abriram novas possibilidades para a IA. Esses primeiros sucessos ajudaram a inspirar gerações de cientistas que continuaram a expandir os horizontes da inteligência artificial, buscando criar máquinas que pudessem aprender, raciocinar e interagir de maneira mais sofisticada. A IA começava, então, a se desviar de meras máquinas de cálculos matemáticos ou simuladores de conversa para algo mais complexo, que um dia poderia realizar tarefas mais amplas e, quem sabe, se aproximar da forma de inteligência humana.
Os anos seguintes à década de 1960 testemunharam o avanço de novas técnicas, como redes neurais e aprendizado de máquina, que deram novos rumos à pesquisa em IA. A introdução de novos algoritmos e abordagens matemáticas ajudou a tornar possível que as máquinas começassem a lidar com problemas mais complexos e com maior variedade de dados. A década de 1970 e além testemunharia a ascensão de sistemas de IA mais avançados, como os sistemas especialistas, que foram projetados para resolver problemas dentro de um campo específico do conhecimento, e os primeiros passos em direção ao que hoje chamamos de aprendizado de máquina.
Ainda assim, os primeiros desenvolvimentos da inteligência artificial nas décadas de 1950 e 1960 representaram marcos fundamentais. O Logic Theorist e o ELIZA não apenas provaram que a IA poderia ser possível, mas também lançaram as bases para as futuras gerações de máquinas que, com o tempo, se tornariam mais eficientes, inteligentes e, em muitos casos, capazes de realizar tarefas que antes eram impensáveis para um computador. Esses pioneiros da IA mostraram que a ideia de máquinas inteligentes estava longe de ser uma utopia, e sim um campo de estudo válido, com um grande potencial de transformação para o futuro.
Referências:
- Newell, A., & Simon, H. A. (1956). The Logic Theorist. Proceedings of the Western Joint Computer Conference.
- Weizenbaum, J. (1966). ELIZA – A Computer Program for the Study of Natural Language Communication between Man and Machine. Communications of the ACM.
- McCarthy, J. (2007). The History of Artificial Intelligence. Stanford University.